Todo dia eu penso que eu poderia morrer
e mesmo assim crio álibis para não realizar os meus desejos
Oi, gente!
Janeiro acabou. Demorou muito, mas acabou. Para mim, foi um mês onde ficou claro o meu comportamento de “eu vou fazer…”, “eu vou escrever…”, “eu vou comprar…”, mas nunca consumar os atos. As vezes, eu falo para as pessoas que vou fazer algo só pra ver se me forço a realizar meus desejos. Em um ato falho, acabo de escrever: realizar meus desenhos.
Quem a Ingrid de 15 anos imaginava que eu seria? E a de 21?
A Ingrid de hoje, de 29 anos, não está conseguindo projetar a Ingrid de 40. Será que é isso que dizem sobre a impossibilidade de imaginar futuros para a idade mais adulta? A juventude estagnando para a maturidade se aproximar? E o que chega com essa maturidade?
Será tudo isso só efeito da pandemia? De ficar sem perspectiva de um futuro muito promissor?
Ao mesmo tempo, sonho com uma fuga. Largar tudo.
“Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que eu me encontrar […]
[…] Eu quero nascer e quero viver”
Sinto-me como uma mera espectadora e por isso vivo apagando meus aplicativos que possuem feed: quase todos de rede social. Parece que enquanto faço parte dessas redes, sou útil de alguma forma: assisto. Quando saio delas encontro comigo mesma e vejo o que estou negligenciando há meses: minha própria vida, meu orçamento, meus desejos, meus sonhos (que de tão pouco acessados, começo a achar que já nem os tenho mais).
Hoje, domingo, decidi que não serei espectadora de nada. Terei outros adjetivos: produtora, criadora, pensadora, leitora, mantenedora ou até dona de casa. Não é fácil deixar de ser algo que se é desde sempre: eu quando criança passava horas assistindo pessoas e coisas. Muito concentrada em observar ou ler o que quer que fosse, a ponto de não ouvir nada mais em volta.
A s s i s t i r.
Acompanhar visualmente. Ver a vida. Minha ou dos outros. Analisar. Enxergar detalhes. Micro expressões.
Talvez essa seja minha vocação: uma espectadora voraz. Sempre pronta para entrar em outros mundos para fugir do meu. É claro que essa frase contém ironia, mas vem daquele humor que nos protege ao mesmo tempo que nos agride: sabemos que existe um fundo de verdade.
Essa newsletter seguiu um conselho de Betty Milan: não barrar a escrita, de maneira nenhuma. O que vai para o mundo, é do mundo. Apesar de ser meu também.
Até mais,
Ingrid.
(ps. eu estou com saudade de todos, me mandem notícias e respostas)
Toda essa observação do mundo faz de você uma mente afiadíssima, atenta e critica de uma forma admirável. Você é mantenedora e testemunha da vida, das coisas belas, acho lindo isso. Nossa dinâmica deveria ser algo indiscutível, mesmo que as vezes a gente estique para fora dela, somos mais potentes quando voltamos ao nosso aspecto mais treinado, praticado e regamos para simplesmente germinar. Estou aprendendo que é mais gostoso viver o que tem do que projetar o que posso ter, e isso me veio só com a derrubada de alguns medos. Priorização do meu tempo para mim mesmo nunca havia sido tão importante.
eu amo ser sua leitora! obrigada